Ovo caipira ou orgânico? Quais as diferenças e o que isso tem a ver com o bem-estar animal?
Deixe de lado por um momento a velha brincadeira sobre o que veio primeiro – o ovo ou a galinha. O objetivo aqui é bem mais pé no chão: mostrar as semelhanças e as diferenças entre o ovo caipira e o orgânico, algo que ainda causa muita confusão entre os consumidores.
Tratam-se de duas maneiras distintas de se obter o mesmo alimento, embora guardem algumas semelhanças entre si. Ambos os sistemas têm por princípio o respeito ao bem-estar dos animais. Proíbem, por exemplo, que as galinhas sejam submetidas a práticas cruéis, como o confinamento em gaiolas. Mas existem diferenças também.
O sistema de produção de ovo caipira busca aproximar-se dos métodos mais tradicionais, nos quais os animais têm amplo acesso à área externa e liberdade para se movimentar. Embora essas sejam também preocupações existentes na produção orgânica, sua principal característica recai sobre outro aspecto: a diminuição ou a completa eliminação do uso de insumos sintéticos, como antibióticos, fertilizantes de síntese química e de produtos de origem transgênica. Os dois sistemas buscam criar uma galinha poedeira com sustentabilidade e de modo ambientalmente responsável. Veja a seguir algumas diferenças entre eles:
ALIMENTAÇÃO
Sistema caipira
Para galinhas poedeiras criadas para produzir ovo caipira, as exigências relativas a este item são menores, centradas principalmente na garantia de acesso à alimentação na quantidade e na qualidade adequadas para atender as necessidades nutricionais das aves.
Sistema orgânico
Já para a produção de ovos orgânicos, a garantia de acesso à alimentação na quantidade e na qualidade adequadas para atender as necessidades nutricionais das aves não é suficiente. Os animais devem ainda ser alimentados com produtos orgânicos, havendo uma tolerância de utilização de até 20% de alimentos convencionais, em situações de escassez de orgânicos. Nenhum alimento transgênico pode ser fornecido às aves.
ÁREA DE PASTAGEM
Sistema caipira
Durante todo o período de produção as galinhas poedeiras precisam ter acesso a uma área externa, devendo ser soltas pela manhã e recolhidas no final da tarde, sempre que as condições climáticas permitirem. O espaço disponível deve ser de no mínimo 0,5 metros quadrados por ave.
Sistema orgânico
As aves devem ter acesso a pastagem ou área de circulação ao ar livre, com vegetação arbórea suficiente para garantir sombra a todos os animais sem que esses tenham que disputar espaço. O espaço mínimo de área externa disponível pode variar de 1 a 3 metros quadrados por ave, dependendo do sistema de manejo dos pastos.
ALOJAMENTO
Sistema caipira
As poedeiras de ovo caipira precisam ter um alojamento que as mantenha secas e protegidas de predadores, com espaço mínimo de 7 aves por metro quadrado. Os alojamentos devem ter saídas de modo a garantir que todas as galinhas possam ter acesso à área externa.
Sistema orgânico
As instalações para alojamento das aves devem proporcionar condições de temperatura, umidade, iluminação e ventilação que garantam o bem-estar animal, respeitando a densidade máxima de 6 aves por metro quadrado
USO DE MEDICAMENTOS
Sistema caipira
As galinhas podem receber antibióticos e outros medicamentos, sempre que for necessário tratar doenças (não como prevenção) e desde que sejam prescritos por um veterinário.
Sistema orgânico
Nesse sistema, há restrições adicionais. Em caso de doenças, as aves devem ser tratadas com medicamentos que estejam incluídos numa lista de substâncias autorizadas pela legislação dos alimentos orgânicos. A utilização de produtos quimiossintéticos artificiais só poderá ocorrer se os produtos listados não estiverem surtindo efeito e o animal estiver em sofrimento ou risco de morte e sob condições especiais estabelecidas pelo regulamento orgânico.
Qual a relação destes sistemas com o programa Certified Humane?
As normas do programa Certified Humane foram estabelecidas por um comitê científico internacional formado por 40 especialistas de diversos países, inclusive o Brasil. O foco é o bem-estar animal das respectivas espécies e não existe restrição ao consumo de ração não orgânica pelas aves, por exemplo.
Por outro lado, as regras são mais detalhadas no que diz respeito ao manejo. A presença de poleiros, por exemplo, não é mencionada pela lei de orgânicos e nem pela norma técnica para o sistema de ovo caipira, mas é obrigatória pelo referencial Certified Humane de bem-estar, pois é um aspecto chave do comportamento natural das galinhas.
Outra diferença é a saída das aves a uma área externa, que para este referencial não é obrigatória – desde que todas as regras impostas para o ambiente interno dos galpões sejam respeitadas: como a presença de comedouros, bebedouros e ninhos em quantidades adequadas, ventilação, cama limpa e seca, além da densidade mínima respeitada, que é a mesma exigida para o sistema caipira (7 aves por m²) para galpões com piso único – mas pode ser menor quando se tratar de galpões com piso elevado (tipo slat) ou plataformas de vários níveis.
Na norma para galinhas poedeiras incluímos a opção para a certificação de ovo caipira também, a partir da norma técnica publicada pela ABNT em dezembro de 2016. Para conhecer as regras da produção orgânica, procure pelas exigências estabelecidas pelo MAPA na Instrução Normativa que descreve as regras para a produção animal orgânica (IN N°46, de 06/10/2011).
Mas como obter a certificação e para que serve?
O principal benefício da certificação é a segurança oferecida ao consumidor final de que o sistema de produção indicado na embalagem dos produtos condiz realmente com as respectivas normas estabelecidas para aquele sistema. Uma certificação confiável deve ser realizada por uma instituição imparcial e independente, que realize inspeções anuais nos locais de produção, confirmando que todo o manejo estabelecido respeita as exigências impostas para cada sistema.
Para a certificação orgânica, o produtor que já estiver produzindo – conforme as regras definidas pela lei brasileira – deve procurar uma certificadora credenciada pelo MAPA. A certificação da Certified Humane de bem-estar animal, seja pelo sistema caipira ou pelo qual as aves não têm acesso a uma área externa, faça contato com o Instituto Certified Humane Brasil: info@certifiedhumanebrasil.org.
Publicado em 30 novembro de 2017