Bem-estar animal e qualidade da carne: saiba como o manejo interfere na produção
Não é somente o conforto cotidiano do animal de criação que é afetado pela ausência de bem-estar: a própria qualidade do produto final é largamente determinada pelas condições em que ele vive e é manejado. Fatores como exposição a condições climáticas extremas, mistura de lotes e más condições dos locais onde são criados e medidas sanitárias falhas prejudicam o bem-estar animal e a qualidade da carne.
Por outro lado, utilizar boas práticas de manejo e empregar um sistema de alimentação eficiente traz grandes benefícios tanto para os animais quanto para o produtor – o que inclui dar condições para que o animal sinta-se protegido e possa expressar seu comportamento natural, além do seu potencial produtivo. Quando isso é feito com sucesso, a própria cadeia produtiva torna-se mais eficaz.
Quer saber mais detalhes sobre o bem-estar animal nos sistemas de produção, a relação entre manejo e produtividade e descobrir por que o bem-estar animal e a qualidade da carne têm tudo a ver? Fique com a gente no texto a seguir!
Bem-estar animal nos sistemas de produção
Os sistemas de criação intensivos de animais soltos no campo apresentam, simultaneamente, tanto condições muito favoráveis para proporcionar bem-estar animal quanto riscos inerentes ao próprio sistema. Por isso, é necessário adotar boas práticas de manejo que minimizem tais riscos e preservem a produtividade, ambiência, sanidade, nutrição e por fim, a qualidade da carne.
Confira os principais cuidados a tomar:
– Previna deficiências nutricionais decorrentes da sazonalidade da forragem e da falta de nutrientes com uma suplementação adequada;
– Supervisione os animais diariamente para prevenir doenças e ferimentos acidentais, priorizando detecção precoce de problemas e tratamentos;
– Forneça abrigo e sombra para que os animais consigam se proteger de predadores e das condições climáticas extremas – exposição prolongada em especial ao calor é muito prejudicial aos animais e a produtividade;
– Descorna e castração de bovinos, corte da cauda e castração de ovinos, emprego de manejo brutos para com os animais, mau uso de cães e manejo inadequado com ferramentas indevidas são altamente prejudiciais à produção, ao bem-estar animal e à qualidade da carne.
Manejo, temperamento e produtividade
Todas as espécies de animais domesticadas para a produção pecuária são sociais e vivem em grupos prioritariamente estáveis com hierarquia social definida – cada indivíduo possui uma posição dentro do grupo. O entendimento sobre o comportamento da espécie em questão e uma relação homem-animal positiva é determinante para o sucesso da produção e deve seguir uma linguagem destinada a minimizar o estresse.
A comunicação com os animais deve:
– Usar sinais que os animais percebam como incentivo e não uma afronta;
– Ser informativa;
– Nunca ser ambígua;
– Ser feita em linguagem que o animal possa entender e seguir na direção desejada pelo manejador.
O medo prejudica tanto o bem-estar animal quanto a produtividade comercial: mesmo a redução do crescimento está associada ao estresse causado pela presença do homem. Assim, todo o manejo dos animais deve ser direcionado para evitar que sintam medo e estresse que possa ser evitado.
Confira outras cuidados fundamentais:
– As instalações precisam ser adequadas à espécie em questão e devem permitir que os animais tenham liberdade de movimento e circulação;
– Animais que estão mais acostumados com a presença e o contato do homem apresentam menos estresse durante rotinas de tratamento e contenção;
– Animais com temperamento mais calmo tendem a ganhar mais peso;
– Adotar boas práticas de manejo gera bons resultados mesmo quando se trabalha com animais de temperamento difícil, como os bovinos de raças com componentes Bos indicus.
Bem-estar animal e qualidade do produto
As características e fatores de qualidade da carne são divididas em 5 grupos:
- Fatores bioquímicos (pH, capacidade de retenção de água, colágeno, estado e consistência da gordura, estado das proteínas, viscosidade, estabilidade oxidativa);
- Fatores sensoriais ou organolépticos (cor, marmoreio, exsudação, dureza, suculência, sabor e odor);
- Fatores nutricionais (valor protéico, aminoácidos essenciais, gordura, composição de ácidos graxos, vitaminas e minerais);
- Fatores higiênicos e toxicológicos (garantia de não gerar risco à saúde do consumidor);
- Fatores de qualidade social (garantia de que a carne foi produzida considerando o bem-estar animal e o meio ambiente).
A falta de bem-estar animal afeta de forma direta e negativa os fatores bioquímicos, sensoriais e higiênicos e pode resultar em perda de cor, suculência, maciez e outros problemas.
pH → Animais que chegam ao abate com fadiga ou estresse têm pouca queda no pH e ficam sem reservas de energia: isso deixa a carne mais dura, com cortes escuros, aparência desagradável e mais suscetível ao crescimento bacteriano.
Cor → Quando uma carne fresca de qualidade é cortada, ela muda do púrpura para o vermelho brilhante. Porém, se o animal sofrer estresse e manejo deficiente no momento pré-abate, a carne fica com altos níveis de pH, água retida, fibras inchadas e aparência escura.
Maciez → Atributo complexo de muitas variáveis e determinante para a aceitação do consumidor, a maciez é afetada tanto pelo manejo pré e pós-abate quanto pela preparação do produto. Para diversos pesquisadores, enquanto o estresse e a adrenalina resultam em uma carne mais rígida, animais calmos e relaxados geram carnes mais macias.
Publicado em 16 janeiro de 2023