Crise do Coronavírus: produtores de ovos e frangos recebem mais pedidos
O mundo inteiro sofre com a crise do Coronavírus desde que o governo Chinês anunciou, em janeiro, 17 mortes ocorridas em decorrência de uma doença pulmonar grave.
Hoje, os números já aumentaram bastante e, praticamente, todos os países já registram pessoas infectadas. As bolsas de valores do mundo inteiro caíram e houve perda de bilhões de dólares após o anúncio de pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Centenas de cidades ainda estão em quarentena somente com serviços essenciais funcionando, mas, com tudo isso a agroindústria mostrou sua força.
Diante do alerta para que a população ficasse em casa, o setor da agroindústria buscou garantir o funcionamento e manter o abastecimento dos alimentos. Com milhões de animais no campo, são muitas as dúvidas de como prosseguir a criação mantendo as normas de bem-estar animal e seguir, de fato, todas as orientações já emitidas pelos órgãos de saúde para preservar a saúde dos colaboradores das empresas.
Na contramão da crise do Coronavírus, em meio ao turbilhão de informações e medo da população, as agroindústrias estão se destacando e já registraram aumento em seus pedidos em até 70%. É o caso da Korin – a primeira empresa latino-americana a obter o selo Certified Humane – na semana do dia 16 de março. Na semana seguinte, o acréscimo nos pedidos se estabilizou em 30%. Apesar de manter as atividades funcionando normalmente, a empresa adotou algumas medidas necessárias para evitar a disseminação do vírus, como a divisão de grupos de trabalho, jornada reduzida, home office e rodízio de horários.
“Com relação à produção de aves, mantivemos a programação de alojamento e abate para garantir o fornecimento de alimentos saudáveis”, confirma Marceno Braga, gerente de marketing. Além disso, a granja restringiu a visita de terceiros, reforçou a orientação a todos os envolvidos sobre as práticas de higiene e de prevenção, distribuiu álcool gel a todos os técnicos de campo, adotou procedimentos de limpeza dos carros, aumentou a frequência de limpeza dos ambientes, dispensou a presença dos granjeiros com mais de 60 anos durante visita técnica e adotou o monitoramento de temperatura dos colaboradores antes de iniciar as atividades.
Pedidos quadruplicados
Certificada com o selo Certified Humane para galinhas poedeiras e com produtos presentes em grandes redes de supermercados do sul do Brasil, a brasileira Agroavícola Filippsen também registrou aumento nos pedidos: foram quatro vezes mais. O responsável pela marca, Raul Filippsen, reforça que os animais não sofreram nenhum impacto, já que havia um grande estoque de insumos de ração, que é suficiente para enfrentar a quarentena.
Apesar de os animais terem sido mantidos normalmente com as regras de bem-estar, algumas ações imediatas foram realizadas com os colaboradores. “Funcionários com crianças pequenas foram aconselhados a ficar em casa. Os que puderam vir trabalhar serão beneficiados com um prêmio de 50% do salário base”, destaca. Outras medidas, como disponibilizar álcool em gel para todos os motoristas – que são orientados a não descerem dos caminhões – e esterilização diária dos veículos também foram tomadas.
Como complemento do uso dos equipamentos de proteção individual, os funcionários da chilena Avícola Coliumo – produtora da marca de ovos La Castellana com o selo Certified Humane – foram disponibilizados álcool em gel e desinfetantes para todas as áreas de trabalho. A gerente de produção da granja, Antonia Reyes Mauret, relata que houve uma alta demanda de ovos, mas que até o momento conseguiram atendê-la bem. “Sabemos que uma missão de produzir alimentos seguros para a população. Todos nós adotamos medidas extremas de biosseguridade. No mais, nossa excelência no atendimento às galinhas permaneceu intacto”, afirma.
Segundo Antonia, diferentes turnos em alguns setores foram adotados para evitar aglomerações. “Devemos nos acostumar com o fato de que todos os dias haverão eventos diferentes que podem complicar nossa atividade, mas estamos a procurar a melhor solução. Com tudo isso, percebemos uma união maior entre todos os colaboradores e muita solidariedade. Estamos orgulhosos de nossa equipe”, ressalta.
Pressão da sociedade
A maioria das empresas busca a certificação para atender ao seu cliente, seja consumidor final ou a indústria de alimentos que utiliza algum ingrediente de origem animal. No entanto, nota-se uma pressão da sociedade em busca de mudanças – que demonstra uma maturidade do consumidor, onde o bem-estar animal não é mais uma novidade, mas algo que se busca, principalmente, para o mercado de ovos.
Conforme Luiz Demattê, diretor da Korin e membro do comitê científico da HFAC (Humane FarmAnimal Care), a procura de ovos e frangos provenientes de uma criação com bem-estar animal já estava crescendo gradativamente nos últimos cinco anos. “As pessoas veem valor e confiam nestes produtos que levam selos de certificação, seja de produção com manejo humanizado ou orgânico”, comenta. Demattê reforça que, ao enfrentar um impacto como este da crise do Coronavírus, as pessoas tendem a observar o quanto a natureza está relacionada com esta produção e se conscientizam.
O diretor acredita que o aumento repentino na procura por ovos e frangos neste momento se deu ao receio do desabastecimento, o que também ocorreu em outras cadeias produtivas. “A partir daí, as pessoas demonstram mais preocupação em relação aos produtos que estão levando para casa. O selo adiciona valor a este produto, gera confiança e acaba fidelizando o cliente”, finaliza.
Publicado em 30 março de 2020