Saiba tudo sobre as boas práticas para a parição de bezerros
Prezar pelo bem-estar dos animais e respeitar o comportamento de cada espécie vai além do eticamente responsável: pesquisas mostram que usar estratégias de manejo adequadas gera mais produtividade e melhora a qualidade do produto final. Não é diferente com os bovinos desde o seu nascimento – e a parição de bezerros, momento delicado para a lucratividade da produção, deve ser feito da forma menos invasiva possível.
É por isso que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou um manual que descreve as boas práticas para o manejo e parto de bezerros. Manual este desenvolvido após uma década de estudos sobre o comportamento de vacas e bezerros e a forma como interagem com humanos, além da realização de testes práticos em fazendas comerciais.
Segundo criadores que passaram a seguir o manual, as boas práticas não só facilitaram o manejo dos animais como reduziram o estresse das vacas e a quantidade de bezerros que apresentaram doenças ou sofreram de lesões.
Siga conosco e saiba mais sobre as boas práticas para o parto de bezerros!
Cuidados antes do parto
Os cuidados com a saúde do bezerro começam ainda antes de seu nascimento, preparando a matriz e protegendo o feto contra doenças e manejos que podem levar ao aborto. Assim, efetuar todas as vacinações como as contra Leptospirose e Brucelose e testes sorológicos nas matrizes para identificar outras doenças reprodutivas e que podem levar a possível infertilidade é recomendável.
Também é essencial para minimizar as perdas fetais que o veterinário prepare, a partir dos dados zootécnicos e sanitários do rebanho, um calendário de vacinação para as matrizes.
Caso um aborto ocorra, é recomendável sob a supervisão de um veterinário coletar partes do feto e da placenta para identificar a causa da mortalidade em exame laboratorial – veja como efetuar a coleta:
– Feto com até três meses → Deve ser enviado inteiro para o exame junto com partes da placenta: acondicione em saco plástico limpo, coloque em caixa térmica com gelo e envie até 24 horas após o aborto para o laboratório.
– Feto com mais de 4 meses → Devem ser enviadas partes do feto (fígado, pulmão, baço, coração, cérebro inteiro, rins inteiros, exsudato torácico e abdominal e 5ml de conteúdo gástrico) junto com partes da placenta: acondicione em saco plástico limpo, coloque em caixa térmica com gelo e envie para o laboratório.
O parto
Quando estão para parir, as vacas ficam inquietas, param de comer e afastam-se do rebanho em busca de um local mais seguro para o parto – além de andar em círculos, arquear as costas e deitar e levantar repetidamente em um período que dura entre 4 e 24 horas. Quando a bolsa rompe, a vaca tende a permanecer no local do estouro lambendo o fluído amniótico.
Conheça algumas constatações sobre a parição de bezerros:
– Vacas gordas, por apresentarem contrações uterinas fracas, e vacas magras, por terem pouca energia, sofrem maior risco de problemas no parto;
– Vacas que parem em pé têm maior risco de mortalidade de bezerros (16,1%) em relação às que os parem deitadas (4,2%);
– O parto normalmente dura entre 30 minutos e 4 horas e a expulsão da placenta ocorre cerca de 5 horas após o parto – se demorar mais de 24 horas, é indicativo de retenção da placenta o que requer uma atenção maior para riscos de infecção;
– O ideal é que o bezerro mame o primeiro colostro, preferencialmente de sua mãe, até três horas após o parto. Bezerros que conseguem mamar ficam ativos e se levantam mais rapidamente.
Ambiente ideal para o parto
Vacas em fase final de gestação devem ser alojadas numa área exclusiva chamada “maternidade” – curral ou pasto para facilitar a rotina de acompanhamento mais próxima das sedes das fazendas para facilitar inspeções mais frequentes no dia.
O manejo no parto, sob a forma de alguma intervenção no parto destas vacas só deve ocorrer quando for de fato necessário e deve ser sempre feito de forma calma, sem gritos, aglomerações ou agressões de qualquer tipo. Situações estressantes podem levar ao aborto ou ao nascimento precoce do bezerro.
Veja algumas dicas sobre o ambiente ideal para o parto:
– O pasto ou curral maternidade deve ser uma área calma da fazenda e dispor de alimento, água, sombra e espaço à vontade para todas as vacas, com áreas secas e bem drenadas;
– Os lotes de parição devem ser formados assim que a prenhez é confirmada;
– Vistorie as cercas para evitar que bezerros recém-nascidos passem para o pasto vizinho ou qualquer área que lhe coloque em risco de vida;
– Não permita que cães, galinhas e outros animais tenham acesso a área das matrizes e bezerros recém-nascidos por questões sanitárias e de proteção dos animais.
Vacas de primeira cria
As novilhas que terão sua primeira cria precisam ser mantidas separadas das vacas mais experientes para evitar interferências no trabalho de parto, o que pode acabar levando alguns bezerros a serem abandonados pela matriz de primeira viagem.
Mantê-las em pastos exclusivos também facilita o acompanhamento do parto, que costuma apresentar mais problemas no caso das novilhas. É importante ressaltar, entretanto, que as novilhas com baixa habilidade materna no primeiro parto podem se tornar ótimas matrizes da segunda cria em diante.
Recomendações para ajudar a vaca a parir
Intervenções devem ocorrer somente quando há risco às matrizes e à vida do bezerro. Qualquer interferência deve ser feita por pessoas treinadas, preferencialmente veterinários. Confira a seguir dicas valiosas para ajudar a vaca a parir:
– Contenha a vaca com segurança, protegendo sua cabeça e outras partes do corpo que ficam em contato direto com o chão;
– Use luvas descartáveis que protegem todo o braço;
– Lave bem a região do ânus e da vulva com água e sabão – podem ser utilizadas soluções desinfetantes como iodo, cloro, etc.;
– Não introduza materiais cortantes dentro do útero da vaca.
– Se for preciso amarrar os membros do bezerro para auxiliar a retirada, use material limpo e desinfetado;
– A retirada do bezerro deve ser feita com cautela e segurança: não use força em demasia;
– Após a retirada do bezerro, observe se ele consegue respirar normalmente e, se for preciso, remova as secreções placentárias da sua boca e narinas e faça movimentos cadenciados com as duas mãos comprimindo seu tórax;
– Deixe o bezerro e a matriz sozinhos mas mantenha-se por perto para observar se a vaca consegue se levantar e se o bezerro consegue mamar;
– Se houver abandono ou troca de bezerros, aproxime matriz e filhote e mantenha-se em local tranquilo para que criem laços;
– Se o bezerro tiver dificuldades para mamar, ajude-o até que consiga mamar sozinho;
– Dê atenção especial aos bezerros que nascem em dias frios, chuvosos ou no início da manhã;
– Alimente bezerros rejeitados ou órfãos com colostro congelado ou ajudando-o a mamar em outra matriz recém-parida;
– Registre todos problemas que ocorreram e as soluções que foram tomadas.
Cuidados no dia seguinte
Antes da estação de nascimentos, certifique-se de que possui todos os materiais e produtos necessários para cuidar dos bezerros. A identificação, assepsia do umbigo, e pesagem devem ser feitos no dia seguinte ao nascimento ou assim que possível, nunca no dia do próprio parto, para não atrapalhar a formação do vínculo entre a matriz e filhote.
Estes cuidados também não podem demorar, uma vez que após três dias o bezerro já é ágil o bastante para dificultar o manejo e apresenta maior risco de sofrer bicheiras no umbigo e outras infecções. Para que sinta-se seguro e protegido contra as investidas das vacas e possa aplicar os medicamentos com sucesso, o tratador deve executar o trabalho com calma e tranquilidade, sempre com contenção adequada. Matrizes acompanhadas de dos bezerros sempre tendem a ser mais agressivas no instinto de proteger sua cria.
Publicado em 05 maio de 2022