Por que a Hemmer se comprometeu a usar apenas ovos de galinhas livres em sua maionese?
Por que a Hemmer se comprometeu a usar apenas ovos de galinhas não confinadas em sua maionese – e de que maneira as indústrias de alimentos podem obter o selo Certified Humane de bem-estar animal
A Hemmer Alimentos, de Blumenau, assumiu recentemente um firme compromisso com o bem-estar animal. A empresa deixará de comprar ovos de galinhas que passam a vida confinadas em gaiolas apertadas, superpovoadas e desconfortáveis. Não é pouca coisa. Ovos são os principais ingredientes da maionese, um dos produtos de maior destaque no portfólio da Hemmer, cuja expectativa é passar a usar na receita somente ovos de galinhas livres, criadas em condições mais humanas. A mudança terá de ser gradativa, uma vez que seus fornecedores podem precisar de tempo para se adaptar – a promessa é que o processo seja concluído até 2025.
Com a iniciativa, a Hemmer adere a uma tendência emergente. Outros grandes fabricantes de maionese no Brasil já tomaram caminho semelhante e passaram a comprar apenas ovos de galinhas livres. É o caso da Unilever (dona das marcas Hellmann’s e Arisco), da Cargil (que produz as marcas Liza e Maria), e da Bunge (detentora dos rótulos Primor, Soya e Salada). São boas notícias, principalmente para as aves. Mas evidentemente essas promessas representam apenas um primeiro passo. Para fortalecer o compromisso com o bem-estar animal, as empresas precisam assegurar aos consumidores que seu compromisso vai além das palavras. Isso pode ser obtido, por exemplo, por meio de uma entidade independente para averiguar a aplicação das boas práticas de bem-estar animal e comunicar isso ao mercado — como faz o Instituto Certified Humane com o selo Certified Humane. Trata-se de uma etapa fundamental. A crescente preocupação das indústrias com a qualidade de vida dos animais mostra um aspecto pouco conhecido sobre o assunto: a certificação de bem-estar animal também pode ser feita para fabricantes de alimento, e não é só para criadores, sítios e fazendas.
Para o consumidor, não basta prometer: é preciso assegurar que o compromisso com o bem-estar animal será cumprido.
Antes de mais nada, é preciso compreender de onde vêm o interesse pelo bem-estar animal. Dificilmente haveria um movimento tão consistente entre as empresas se os consumidores não estivessem demonstrando que se importam com o bem-estar dos animais. Engana-se, porém, que o público se contenta somente com as promessas de bom comportamento. A experiência de outros países mostra que há um próximo passo fundamental para conquistar a confiança do consumidor: assegurar que o compromisso assumido é para valer. Essa é a missão do Instituto Certified Humane, instituição sem fins lucrativos dedicada a garantir para os consumidores que o compromisso com o bem-estar animal está sendo cumprido na prática. Para isso, basta que um criador de animais ou uma empresa de alimento peça para ser certificado – e receberá o direito de usar o selo Certified Humane em seus produtos caso os inspetores constatem que as boas práticas de bem-estar animal estão sendo de fato aplicadas.
Basicamente, o processo de certificação de um fabricante de alimentos vai inspecionar se as matérias-primas usadas em seus produtos foram obtidas de acordo com as normas do Instituto Certified Humane – os fornecedores de carne, leite e ovos, portanto, também teriam de ser certificados. A certificação não será concedida para todos os produtos da empresa, mas apenas para aqueles que puderem comprovar usar apenas ingredientes certificados.
O poder de compra das empresas de alimentos é um forte estímulo para que os produtores melhorem as condições de vida nos aviários e passem a produzir ovos de galinhas livres. Isso resulta em menos sofrimento e num tratamento mais humano para milhares de galinhas poedeiras pelo Brasil afora.
Publicado em 03 agosto de 2017