Boas práticas de bem-estar animal: consumidores pressionam empresas
Uma das forças a empurrar a adoção de boas práticas de bem-estar animal é a mudança no comportamento do consumidor. No mundo inteiro as pessoas estão indicando preferência por alimentos produzidos com respeito à qualidade de vida dos bovinos, suínos e aves que lhes deram origem. Isso fica muito claro a cada novo estudo ou pesquisa sobre o assunto.
Muitas pessoas podem achar que o tema ‘boas práticas de bem-estar animal’ ainda está distante da vida real, restrita apenas aos ambientes de discussão dos teóricos e dos pesquisadores. Nada mais longe da verdade. Uma reportagem no jornal Valor Econômico da terça-feira, 2 de maio, mostra que as empresas de alimentos e as redes de supermercados no Brasil estão sentindo na pele essas pressões. Recentemente, grupos de consumidores organizados passaram a se mobilizar para exigir dessas empresas a adoção de boas práticas de bem-estar animal.
Embora haja questões importantes em torno do bem-estar de outras espécies, como bois e frangos de corte, os ativistas concentram sua atenção, no momento, à produção de ovos e à suinocultura. No primeiro caso, os consumidores querem que as empresas assegurem que as galinhas poedeiras não sejam mantidas em gaiolas apertadas e sufocantes. Para os suínos, a exigência é que se dê um fim às gaiolas de gestação – verdadeiras celas nas quais as matrizes são mantidas por longos períodos mal tendo espaço para se virar.
Os novos consumidores ativistas impulsionam as empresas a firmar acordos em favor do bem-estar animal
Na prática, a demanda de boas práticas de bem-estar animal está fazendo com que os responsáveis pelas empresas repensem suas estratégias. Diz a reportagem do Valor Econômico: “No Brasil, Cargill, Unilever, Nestlé, McDonald’s, Giraffas e Casa do Pão de Queijo já anunciaram publicamente cronogramas para o fim das aquisições de ovos de aves confinadas”.
Um elo fundamental para garantir que as demandas do mercado em relação ao bem-estar animal estejam sendo efetivamente atendidas pelas empresas e seus fornecedores são as entidades certificadoras. O papel dessas instituições é averiguar as condições em que os animais são criados e conceder um certificado que mostre de modo transparente para o mercado que são cumpridos os requisitos para a qualidade de vida e o conforto físico e psicológico da criação. Um exemplo: as empresas certificadas pelo Instituto Certified Humane Brasil recebem o selo Certified Humane, aplicado nos rótulos e embalagens.
Os novos consumidores-ativistas se expressam com veemência, principalmente nas redes sociais. Mas a discussão não fica restrita apenas aos debates de internet: intermediados por organizações não-governamentais dedicadas à defesa dos animais, há diálogos sendo desenvolvidos com a direção das empresas, impulsionando-as a firmar acordos para adaptar seus modelos de produção às normas de boas práticas de bem-estar animal.
Frequentemente, negociam-se os prazos para que a adaptação seja completa. Mas a exigência com o comprometimento é elevada. Prova disso é que o vem ocorrendo com a rede de supermercados Pão de Açúcar. A empresa se comprometeu a não comprar de fornecedores que mantenham as galinhas poedeiras confinadas em gaiolas. Mas o compromisso envolve, num primeiro momento, apenas os ovos utilizados como ingredientes em produtos das suas marcas próprias – Taeq e Qualitá. Para os ativistas, isso é pouco: eles exigem que o Pão de Açúcar se comprometa a eliminar os ovos de galinhas confinadas em más condições de todas as gôndolas.
Como se vê, o assunto é sério e as pressões não só estão crescendo: elas são bastante reais e presentes no cotidiano das empresas.
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Publicado em 08 maio de 2017