Conheça as cinco liberdades dos animais
Apesar da atuação dos programas e das certificações focadas no bem-estar dos animais de produção, nem sempre foi óbvio compreender as boas práticas que asseguram as liberdades dos animais e sua qualidade de vida.
É de conhecimento de todos que eles sentem dor, prazer e felicidade, porém é difícil saber quando estão irritados, estressados, deprimidos ou o que os aborrece. E o desconhecimento desses fatores impacta nas atitudes para melhorar suas condições de vida e afastar deles as ameaças ao bem-estar.
Nesse sentido, o conceito de liberdades dos animais ganhou força a partir dos anos 60 e, de lá pra cá, se transformou de forma prática em uma série de medidas e diretrizes que direcionam a criação e o manejo correto das diferentes espécies que são monitoradas por programas de certificação.
Neste artigo, conheça quais são as cinco liberdades básicas dos animais e como a certificação de bem-estar atua para atestar que essas práticas estão sendo cumpridas pelos produtores.
Qual a origem do conceito de liberdades dos animais?
A discussão das liberdades dos animais vem ganhando espaço desde que entrou na agenda de governos, empresas e consumidores nos idos da década de 60 na Europa, especialmente na Inglaterra, onde teve origem.
Com a publicação do livro Animal Machines, em 1964, a jornalista e veterinária britânica Ruth Harrison desvelou más condições e maus tratos aos animais por meio de denúncias de aviários superpovoados, bovinos submetidos a condições cruéis de abate, espaços reduzidos de amamentação de suínos, entre outras situações degradantes.
Pela primeira vez, a população da Inglaterra pode encarar práticas abusivas na criação de animais que davam origem aos alimentos que chegavam em suas mesas.
A publicação provocou um choque na opinião pública e levou o governo britânico a criar um comitê para investigar o assunto, encabeçado pelo pesquisador e cientista Francis Brambell, reconhecido pela atuação na área de saúde animal e imunologia.
Um relatório publicado em 1965 como consequência dos trabalhos do comitê mostrou que boa parte dos animais criados na Inglaterra viviam em espaços inadequados para movimentos básicos do seu comportamento natural. Esse estudo cunhou o termo e as diretrizes do que seria chamado de liberdade dos animais.
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Cinco diretrizes para garantir as liberdades dos animais
As constatações do relatório publicado em 1965 na Inglaterra levaram à criação do Farm Animal Welfare Council, em 1979, órgão que publicou um documento com os princípios que, atualmente, norteiam as boas práticas de bem-estar animal e a legislação relativa ao assunto.
O documento é uma espécie de declaração dos direitos dos animais e enumera diretrizes que ficaram conhecidas como as Cinco Liberdades dos Animais. São elas:
- Estar livre de fome e sede: os animais devem ter acesso a água e alimento adequados para manter sua saúde e vigor.
- Estar livre de desconforto: o ambiente em que os animais vivem deve ser adequado a cada espécie, com condições de abrigo e descanso adequados.
- Estar livre de dor, doença e injúria: os responsáveis pela criação devem garantir prevenção, rápido diagnóstico e tratamento adequado aos animais.
- Ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie: os animais devem ter a liberdade para se comportar naturalmente, o que exige espaço suficiente, instalações adequadas e a companhia da sua própria espécie.
- Estar livre de medo e de estresse: os animais não devem ser submetidos a condições que os levem ao sofrimento mental, para que não fiquem assustados ou estressados, por exemplo.
Boas práticas de bem-estar para diferentes espécies
Para garantir que diferentes espécies sejam amparadas e tratadas conforme as diretrizes de bem-estar que levam em conta o comportamento característico de cada uma delas, é importante que a criação e o manejo promovidos pelos produtores estejam adequados às recomendações científicas, técnicas e práticas.
Além de tratar os animais com respeito e de forma saudável, fomentar o bem-estar dos animais reduz o custo das operações de produção, atende às exigências dos consumidores cada vez mais preocupados com a saúde dos animais, aumenta a produtividade e assegura a qualidade do produto final.
Entenda as exigências de criação para o bem-estar de diferentes espécies:
Bem-estar para galinhas
O manejo e a recria conscientes na criação de galinhas é um dos princípios fundamentais para proporcionar bem-estar a esses animais, pois quando criados em confinamento, não conseguem expressar seus comportamentos naturais.
Sinais de estresse e medo afetam a resistência física das aves a doenças do nascimento à criação e do transporte até o abate. Portanto, o manejo exige a adoção do sistema conhecido como cage-free, ou seja, criação de galinhas livres de gaiolas.
A criação correta desses animais inclui normas para evitar ruídos, barulhos desnecessários e movimentos bruscos dentro dos alojamentos, a fim de não estressar ou assustar as aves, além do manejo cuidadoso ao pegar as galinhas para evitar lesões e estados negativos de medo e dor.
Bem-estar para vacas
Os cuidados na criação de vacas leiteiras envolvem a construção de instalações e ambiência para prevenir ferimentos, acidentes, infecções e estresse, além de alimentação com forragens e pastagens de qualidade.
O curral onde as vacas passam um longo tempo em pé (comedouros, sala de ordenha e área de espera) deve ser limpo frequentemente, ter piso emborrachado bem conservado e livre de partes quebradas e cantos pontiagudos.
Tintas, produtos de preservação de madeira, creolina ou desinfetantes tóxicos devem ser evitados nos locais onde os bovinos são criados.
O alojamento deve ter altura adequada para que elas manifestem seu comportamento normal, com corredores e passagens projetados para que os animais menores não fiquem encurralados pelos animais dominantes.
Bem-estar para suínos
Ambientes adequados às características dos suínos mantêm esses animais dóceis, reduz as mortes, lesões e facilita o manejo.
O alojamento deve ter espaço suficiente para comportar os suínos em densidade correta em relação à idade, peso e espaço disponível, mantendo o mínimo equivalente a 1,5 vezes a área que ocupam ao deitar e devem se virar e esticar os membros facilmente;
O local deve ter infraestrutura protegida contra ferimentos ou intoxicação com produtos químicos, e os animais precisam ter acesso a uma área de repouso com superfície seca em camas de palha ou de borracha para evitar o desconforto.
O conforto térmico é essencial para o bem-estar desta espécie, assim como a ventilação em concentração de amônia abaixo de 10 ppm.
Qual a importância da certificação para o bem-estar animal?
Os programas de certificação de bem-estar animal garantem que fazendas, granjas e empresas da cadeia alimentícia sigam as normas de manejo e criação das espécies, e invistam em pesquisa científica e educação para o bem-estar animal, a fim de ir além da produção e do produto final sobretudo como forma de repensar a escala produtiva em seus princípios e origem. ⠀
As certificações também atuam como forma de informar ao consumidor por meio das embalagens que os produtos seguem normas rígidas que garantam o bem-estar animal da produção e fornecem alimentos saudáveis e livres de sofrimento.
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Elas promovem um processo de adaptação da produção às diretrizes que estabelecem as condições favoráveis de vida para os animais por meio da inspeção das instalações e da gestão da produção.
Padrões elevados de bem-estar animal apresentam como resultados a melhoria do produto, a redução de mortalidade de animais, o aumento na resistência a doenças, com redução no uso de medicamentos para tratamento, e o menor risco de zoonoses e doenças transmitidas por alimentos.
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Publicado em 28 setembro de 2023