Bem-estar animal de suínos: Certified Humane contribui em pesquisas da USP
O bem-estar animal de suínos tem sido destaque nas pesquisas realizadas pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP/Pirassununga). A espécie é o foco dos estudos coordenados pelo professor Adroaldo J. Zanella, referência internacional no estudo do bem-estar animal e membro do Comitê Científico da Certified Humane.
A USP tem investido fortemente nas pesquisas sobre o bem-estar animal de suínos e está se tornando um centro de excelência neste assunto – o Instituto Certified Humane contribuiu com doações de recursos para a aquisição dos animais envolvidos nos projetos. Neste post, você vai saber um pouco mais sobre este trabalho.
O impacto do bem-estar de suínos na vida dos filhotes
No comportamento natural dos suínos, as fêmeas abocanham feno, grama e galhos e os levam para dentro das cabanas construídas pelos pesquisadores da USP com o objetivo de proteger os mais de 12 leitões que nascem após uma gestação de 114 dias (3 meses, 3 semanas e 3 dias). O ninho ainda acelera o processo do parto e é fundamental na organização de todo o processo fisiológico que desperta o comportamento das matrizes e facilita a liberação do leite. Infelizmente, a criação de suínos com o intuito comercial impossibilita que este repertório comportamental natural seja estabelecido.
Créditos: USP/Pirassununga
O estudo dos leitões ajudou a concluir a pesquisa que resultou nos projetos de doutorado de Thiago Bernardino de Almeida e de Marisol Parada Sarmiento, além do mestrado de Leandro Sabei. Orientados pelo professor Adroaldo, os pesquisadores conduzem estes experimentos para avaliar como o bem-estar animal de suínos pode contribuir para o desenvolvimento da prole.
Alterações que o bem-estar nos suínos machos (cachaços) pode provocar nos leitões, por Thiago Bernardino
Os suínos machos são frequentemente expostos a situações de estresse nas criações para fins comerciais. Alojamento individual, temperatura ambiente inadequada, restrição alimentar e ausência de interação com outros indivíduos da mesma espécie são apenas alguns dos fatores que impedem o bem-estar de suínos, especialmente os machos reprodutores. Thiago vem estudando as consequências da falta de um manejo humanizado e as possíveis alterações que esta falta de bem-estar dos machos reprodutores pode acarretar no sêmen e em seus filhotes.
Fizeram parte do experimento 27 cachaços – nove receberam o manejo tradicional, ou seja, foram mantidos em celas de gestação que permitiam apenas que deitassem e levantassem. Outros nove animais foram mantidos em baias, que possibilitaram a movimentação dos animais e contato com outros através de cercas. Ainda, outros nove foram submetidos a baias enriquecidas – estes últimos animais receberam enriquecimento ambiental com feno para manipulação, estímulo tátil do manejador através de escovação e banhos de água como estratégia para melhorar o seu bem-estar. Amostras de sêmen de todos os animais que participaram do experimento foram colhidas semanalmente para análises que indicarão suas características e qualidade, possibilitando comparações futuras em função das diferentes condições de alojamento e bem-estar dos reprodutores.
Bem-estar das fêmeas pode atenuar impactos de estresse dos machos reprodutores nos filhotes, por Leandro Sabei
Já o mestrando Leandro Sabei entrou em cena após o experimento realizado com o sêmen dos suínos. Ele utilizou sêmen de 18 machos submetidos a condições contrastantes de alojamento e enriquecimento ambiental, agrupados em seis animais, de acordo com critérios de qualidade de sêmen para a inseminação de 15 fêmeas suínas. Estas, por sua vez, gestaram leitões de pais com diferentes experiências de vida. Estes filhotes foram submetidos a diferentes testes para avaliar se as matrizes criadas com bem-estar animal durante a gestação e maternidade são capazes de mitigar o impacto negativo do estresse causado aos machos reprodutores na fase de pré-cópula.
Durante o período de gestação, foram colhidas amostras comportamentais e fisiológicas. O parto foi acompanhado, além de realizadas coletas de placenta e a ordem de nascimento dos leitões. A paternidade será descoberta com exame de DNA. Após 28 dias de idade aconteceu o desmame e foram coletadas imagens dos leitões por três dias seguidos para contagem de lesões na pele. Os leitões foram submetidos a testes de medo e memória. A expectativa da pesquisa é o entendimento de que ambientes que promovem o bem-estar de suínos, fornecidos às fêmeas durante a gestação e lactação podem atenuar os efeitos estressantes causados pelas condições desfavoráveis fornecidas aos machos suínos.
Claudicação nas matrizes suínas e seus efeitos na prole, por Marisol Sarmiento
Outro desafio encontrado na criação dos suínos é a claudicação. O termo se refere a eventos locomotores dolorosos, que indicam dificuldade para andar. É um motivo de descarte frequente em matrizes suínas e, por isso, tem sido objeto de estudo da doutoranda Marisol Parada Sarmiento. Condições desfavoráveis ao bem-estar de suínos podem causar claudicação, como alojamentos inadequados, pisos com abrasividade excessiva, fatores sanitários e nutricionais, a ausência de casqueamento, entre outros. Este quadro leva a mudanças comportamentais, problemas de saúde e estados emocionais alterados devido à dor sentida pelos animais.
Marisol está trabalhando na identificação das consequências da claudicação nas matrizes suínas para os leitões. O trabalho está sendo desenvolvido em parceria com a Universidade de Teramo, na Itália, instituição na qual ela também está desenvolvendo o programa de doutorado. Em situações de gestação normais, os hormônios de estresse são inativados pela placenta para evitar danos ao feto. Porém, quando estes níveis superam a capacidade de inativação da placenta, os hormônios podem atingir as estruturas nos cérebros dos leitões, influenciando negativamente a memória, cognição, agressão e medo. Resultados preliminares da pesquisa de Marisol indicam que filhotes que nasceram de fêmeas suínas que claudicaram durante a gestação são mais agressivos, têm número de vocalizações diferentes quando submetidos a testes que avaliam medo e comportamento exploratório, sensibilidade à dor diminuída e menor peso ao desmame.
Estes são diferentes projetos que englobam um único objetivo: melhorar as condições de vida dos progenitores e entender o impacto na sua prole. O assunto é muito pertinente, visto que os suínos são submetidos a diferentes condições estressantes durante a produção. Entender estes efeitos pode ajudar a indústria a produzir animais mais adaptados, robustos e que tenham uma melhor qualidade de vida.
Publicado em 16 outubro de 2019