Manifesto sobre o bem-estar dos bovinos reivindica “regulamentação clara”
Um manifesto sobre o bem-estar dos bovinos elaborado por um time de especialistas em bem-estar animal está gerando debates, mais do que necessários.Infelizmente, o documento é o efeito de um mau exemplo.
As condições inadequadas de mais de 25 mil cabeças de bovinos de corte para a Turquia através do Porto de Santos, no começo de fevereiro, foi o estopim para a criação do manifesto sobre o bem-estar dos bovinos encaminhado para o Ministério da Agricultura.
O manifesto sobre o bem-estar dos bovinos relata que “algo precisa ser feito com urgência, (…). O Brasil, em particular o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), está devendo regulamentações claras e detalhadas sobre como tratar a questão do bem-estar dos animais de produção nos diferentes cenários”, segue o texto.
“Regulamentações claras e detalhadas sobre como tratar a questão do bem-estar dos animais de produção” são exigidas por professores e líderes de grupos de pesquisa sobre bem-estar animal, assim como os membros do Comitê Científico da Certified Humane Brasil – professor Adroaldo José Zanella e a médica veterinária e professora Rosangela Poletto – que assinaram o manifesto.
Fotos divulgadas a partir de uma perícia realizada por uma médica veterinária no rebanho já embarcado demonstram o total descaso no embarque do gado, que aconteceu em “condições de alojamento e de fornecimento de água e alimentos” inadequados para assegurar uma boa permanência no navio, conforme proposto pela Organização Mundial de Saúde (OIE).
Os assinantes do manifesto sobre o bem-estar dos bovinos atuam há muito tempo com esta ciência em universidades estaduais e federais de diversos lugares do Brasil, sendo referências respeitadíssimas internacionalmente em seus trabalhos.
Documento questiona nota do Ministério da Agricultura
Na sequência, o manifesto sobre o bem-estar dos bovinos refuta uma nota emitida pela Comissão Técnica de Bem-Estar Animal (CTBEA), do Ministério da Agricultura, divulgada antes da definição do embarque. Segundo o material, auditores fiscais federais agropecuários têm controle integral sobre todas as etapas de operação de embarques de animais vivos, mantendo e promovendo as condições de bem-estar animal.
Conforme o documento, a nota do ministério, “não apresenta nenhuma informação sobre como foi feita a avaliação do bem-estar dos animais durante o transporte terrestre e o embarque e nem sobre as condições do ambiente dentro do navio”. Ainda, a nota exprime que a exportação de animais vivos está amparada por diversos atos normativos alinhados aos princípios de bem-estar animal.
O manifesto sobre o bem-estar dos animais de produção ainda determina que, se assim for, “algo precisa ser mudado urgentemente, pois não há como negar a existência de problemas de bem-estar dos bovinos que participaram desta operação de embarque do navio Nada”. O documento diz que nenhuma contestação bem fundamentada foi apresentada diante das sólidas evidências apresentadas no relatório da médica veterinária que realizou a perícia no embarque dos bovinos.
É mais do que necessário que sejam divulgadas normas e regulamentos a respeito da questão do bem-estar dos animais de produção em diversos contextos. Inclusive, na exportação. Como é possível um ser humano expor a condições tão inadequadas estes animais que não têm como se defender? Lamentavelmente, a situação em que o debate surgiu é sinônimo de uma mistura de antipatia e desaprovação total para nós, da Certified Humane, que tanto trabalhamos para gerar melhores condições de vida aos animais.
Publicado em 23 fevereiro de 2018