“O bem-estar animal é bom para todos, inclusive para a lucratividade do negócio”, Luiz Carlos Demattê Filho, Diretor da Korin Agropecuária
A Korin Agropecuária é referência quando o assunto é sustentabilidade e bem-estar animal. É a maior produtora de frangos orgânicos e foi a primeira a obter o selo Certified Humane.
Conversamos com o Diretor de Produção e Indústria da Korin, Luiz Carlos Demattê Filho, que contribuiu para o desenvolvimento da produção de frangos e ovos orgânicos, livres de antibióticos, promotores de crescimento e quimioterápicos da empresa.
Demattê é Doutor pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (Universidade de São Paulo), e em sua tese ele analisou os reflexos socioeconômicos, ambientais e técnico-produtivos em um sistema na produção de frangos e ovos naturais e orgânicos, embasados nos princípios da Agricultura Natural. A tese foi premiada com o Prêmio Capes de Tese 2015, na área de Ciências Ambientais. Conheça mais sobre os desafios e benefícios do programa Certified Humane de bem-estar animal na entrevista.
Qual a sua relação com o tema bem-estar animal?
O bem-estar animal é seguramente uma dimensão primordial e integrante das ideias relativas aos sistemas naturais de produção. Mesmo antes de surgir o termo bem-estar animal sistematizado como atualmente, nós da Korin e das demais instituições relacionadas à Agricultura Natural já trabalhávamos na prática de campo com este conceito e aplicação. Desta forma, há mais de vinte anos já havíamos introduzido limitações de densidade e de período de escuro de, pelo menos, 6h em nossas granjas. Víamos, de fato, que o bem-estar animal era um elemento essencial para conseguirmos criar aves livres de antibióticos, pois tínhamos que zelar pelo bom funcionamento do sistema imunológico das aves. Não teremos animais imunologicamente competentes se não cuidarmos do bem-estar animal de uma forma integrada ao sistema produtivo. Este fato e experiências é que nos permitiram introduzir e aplicar as normas da HFAC (Humane Farm Animal Care) de uma forma natural em nossos processos produtivos. Creio que esses fatores me ofereceram ao longo do tempo um background relevante para tratar deste tema.
Qual é o maior desafio em termos de bem-estar para os frangos e galinha poedeiras?
A quebra de paradigma por parte do produtor rural, principalmente, quando se trata de produtores que sempre trabalharam no sistema convencional de produção. Demora um pouco para que eles consigam entender que o respeito ao bem-estar animal é bom para todos, inclusive, para a lucratividade do negócio.
Quais os benefícios para o produtor e a indústria quando se aplica boas práticas de bem-estar animal na produção? Você pode destacar alguns?
Com certeza há um aumento expressivo em produtividade, sobretudo quando entendemos que a produtividade, atualmente, é uma equação complexa na qual precisamos adicionar as variáveis sobre o meio-ambiente, o equilíbrio sócio-econômico e o bem-estar animal. Há melhorias significativas nos aspectos sanitários da produção seja ela em carne ou ovos. Tratando-se de frango de corte podemos notar a diminuição na mortalidade e melhora na conversão alimentar. No caso das galinhas poedeiras os benefícios são ainda mais proeminentes, como a diminuição de mortalidade, níveis produtivos maiores que o estipulado para linhagem e longevidade de produção. Tenho sempre falado e também apontado nos diversos eventos que participo sobre a importância de entendermos a relação entre o bem-estar animal e a redução sistemática do uso de antibióticos. Ou seja, a medida que mais restrições ao uso de antibióticos acontecem nos mais diversos países, temos proporcionalmente aumentada a importância em estabelecermos critérios e práticas objetivas para o monitoramento e aplicação do bem-estar animal nas granjas de produção. Vejo dois grandes drivers deste processo de maior demanda do bem-estar animal. Primeiro é a questão ética dos consumidores e da sociedade como um todo, que passa a questionar o que adquire e leva para sua mesa, outro direcionador deste processo é, seguramente, a restrição aos antibióticos. Este último fator tem exercido, no meu ponto de vista, uma grande pressão junto aos técnicos das indústrias, fazendo com que passem a considerar o bem-estar animal como uma ferramenta importante na geração de bons resultados produtivos.
Há uma mudança de comportamento do consumidor, que não tolera mais maus tratos na cadeia de animais de produção, você acha que é uma tendência que veio para ficar? Qual o caminho para atender este novo consumidor?
De fato, a preocupação com o bem-estar animal é um caminho sem volta, já faz muito tempo que deixou de ser apenas um nicho de mercado. O consumidor está se tornando cada vez mais consciente e preocupado com esta dimensão “ética” dos produtos que adquire. Nunca se falou tanto na mídia sobre o assunto e quase todas as semanas é possível ver mais empresas se comprometendo com bem-estar animal, principalmente, quando se trata da aquisição de ovos de galinhas de gaiolas. O consumidor é peça chave de todo esse cenário e é ele que exerce pressão nos produtores de alimentos (proteína animal) quando busca produtos que foram produzidos seguindo práticas de bem-estar animal.
Pode destacar alguns benefícios que a Korin obteve com o selo?
Através do selo foi possível levar mais garantia e segurança ao consumidor. Foi possível também a abertura de novos mercados, creio que o selo adiciona “comprometimento” com a causa, o que é fator importante para o nosso trabalho.Fomos a primeira empresa no Brasil a seguir a norma com requisitos auditáveis para a produção e processamento de proteína animal, com foco no bem-estar de animais de produção.
Foi preciso muito investimento para obter a certificação? Como foi o processo na Korin para obtenção do selo Certified Humane?
A Korin sempre prezou pelo bem-estar de seus animais de produção mesmo antes de utilizar o selo Certified Humane nas embalagens de frango e ovos. Essa preocupação faz parte da filosofia da empresa. O selo veio para trazer mais segurança ao consumidor. Praticamente não foi necessário realizar adequações nos galpões e nos processos produtivos (manejo), o principal investimento realizado foi com a certificação propriamente dita.
Qual a importância do Programa Certified Humane para a indústria de proteína animal e o consumidor?
A certificação e o uso do selo no caso da Korin são ferramentas importantes na comunicação aos nossos consumidores sobre os diferenciais de nossa produção. Adicionalmente, a certificação e o selo levam mais segurança ao consumidor. Trata-se de um programa sério e importante para que possamos mudar os padrões dominantes na produção animal. Visa melhorar a vida dos animais de produção, através do estabelecimento de padrões de produção coerentes e fáceis de serem seguidos e implantados nas propriedades e/ou estabelecimentos produtores e processadores de proteína animal.
Publicado em 12 setembro de 2017