É importante medir o manejo, diz Temple Grandin
A maior referência mundial em bem-estar animal, Temple Grandin, esteve no Brasil na última semana. Psicóloga, mestre e doutora em Ciência Animal, ela visitou uma propriedade rural no país pela primeira vez, no Centro-Oeste.
Temple Grandin iniciou a sua luta pelo bem-estar animal em 1970, quando o manejo dos bovinos era realmente ruim, segundo ela. “Nos últimos anos, melhorou muito a criação, pois as associações estão trabalhando para isso”.
Uma vida que valha a pena viver
O conceito original de bem-estar animal vem do Reino Unido, sendo que os animais precisam ter uma “vida que valha a pena viver”, disse Temple Grandin. É importante que se faça um manejo racional e que se apliquem boas práticas para que os pecuaristas atinjam os melhores resultados nas propriedades, segundo a especialista.
Sobre a experiência na Fazenda Orvalho das Flores, Temple Grandin comentou sobre a diferença entre a personalidade do gado brasileiro e do europeu, mas que já se percebem ações positivas para superar esta questão. “Vi que há organização, bons equipamentos e atitudes corretas com os animais. As pessoas estão realmente se importando com o seu manejo. É preciso haver um interesse crescente em se criar o gado de forma natural e isso está acontecendo”, avaliou.
No rumo do bem-estar animal
Temple Grandin também falou sobre os primeiros passos em direção ao bem-estar animal. Para ela, o primeiro passo é que o produtor ou o fazendeiro se certifique que não está fazendo nada que é realmente abusivo aos animais. Devem ser analisados desde os itens mais simples, como a utilização de um bastão afiado contra o gado, por exemplo. “Isso é algo que não se deve fazer”, orientou.
A pesquisadora ainda comentou sobre a habilidade natural que algumas pessoas têm com os animais. “Ao receber treinamento para manejar o gado, esses criadores descobrem que podem utilizar isso para facilitar o trabalho”, explicou. Temple Grandin acredita que o bom manejo é o que realmente importa – melhora o bem-estar animal, a produtividade e promove a segurança para os peões, evitando lesões.
A tecnologia não substitui o manejo
Quando o assunto é o bem-estar animal, a tecnologia não é um dos fatores mais importantes. “Ela não substitui o manejo, mas auxilia nos equipamentos, que precisam ser adequados. Uma porta automática, por exemplo, facilita o trabalho e não deixa o manejador impaciente por esta estar emperrada. Isso tudo faz diferença”, disse Temple Grandin.
Outra mensagem que a pesquisadora deixou foi que o bem-estar animal requer evolução contínua – sempre é possível melhorar. Mensurar as atitudes dos animais é o termômetro para saber se o manejo está sendo feito adequadamente. “Em um bom manejo não há animais pulando, caindo e nem se batendo contra as cercas. Os mugidos tem que ficar em um nível muito baixo”, explica Temple Grandin. É preciso “medir” e avaliar as atitudes dos animais, pois eles realmente são muito bons em não transparecer a dor por serem presas. “Uma alternativa é gravá-los em vídeo ou não deixá-los perceber que você está observando-os”, aconselhou.
Por fim, vale dizer que “quem lidera o manejo deve se importar porque já vi manejos melhorarem por causa de um bom líder e piorar por causa de uma liderança ruim ou com a mudança deste líder”, disse.
* Este conteúdo foi produzido com informações do Giro do Boi.
Publicado em 27 julho de 2018