Como a Dra. Rosangela Poletto contribuiu para transformar a Certified Humane® em um movimento global
O programa Certified Humane® começou como uma resposta às condições precárias nas fazendas industriais dos Estados Unidos. Ele foi criado para dar aos consumidores norte-americanos o poder de escolher como queriam que os animais de fazenda fossem tratados — através de seu poder de compra.
Adele Douglass Jolley, fundadora da Certified Humane®, nunca imaginou que o programa alcançaria uma escala tão global. E uma grande razão para isso é que uma pesquisadora brasileira de bem-estar animal — que estava fazendo doutorado na Universidade Purdue em 2005 — decidiu dedicar sua experiência como inspetora para esse programa emergente.
“Eu precisava estar em contato com os animais de verdade”, disse Rosangela Poletto, Ph.D. e médica veterinária, que mais tarde se tornou membro do Comitê Científico.
Hoje, produtos com o selo Certified Humane® são vendidos em mais de 26 países. Rosangela apoia com conhecimento técnico e científico a equipe de inspetores ao redor do mundo, responsáveis por auditar fazendas e processadores usando os rigorosos padrões de bem-estar animal do programa.
O programa cresceu globalmente, em parte porque manteve seus altos padrões, mesmo com a expansão para o Brasil, Argentina, Peru e, mais recentemente, para o Sudeste Asiático, incluindo Índia, Indonésia, Singapura, Vietnã e Malásia.
“Sem a Rosangela, isso nunca teria acontecido”, disse Mimi Stein, Diretora Executiva da Certified Humane®. “Ela aplicou o programa e garante que ele mantenha sua integridade enquanto crescemos.”
A Dra. Rosangela atua hoje como Conselheira de Ciência e Pesquisa, parte chave do Comitê Científico da organização. Quando não ensinando e difundindo o conhecimento para promover o bem-estar animal, ela cuida de três filhos (de 15, 11 e 4 anos) e leciona no Instituto Federal do Rio Grande do Sul. E ela ainda está apenas começando.
“Eu faço o que amo e amo ajudar as pessoas a melhorar a vida dos animais”, ela diz. “É por isso que nunca parei. É minha paixão por tudo isso.”
Rosangela cresceu em Marau, uma cidade no Rio Grande do Sul, o estado mais ao sul do Brasil, na fronteira com o Uruguai. Sua família criava vacas leiteiras, cavalos e gado de corte na fazenda da família. Ela ajudava na produção e venda de leite pasteurizado em sacos de litro para o comércio local e sempre cuidou dos seus próprios cães.
Rosangela lavava o cocho das vacas, trocava a água e gostava de observá-las voltando para beber.
“Eu era fascinada por cuidar bem delas e observar seu comportamento”, disse Rosangela.
Ao se preparar para a faculdade, ela considerou tanto a medicina quanto a veterinária, mas a caminho da universidade, disse à mãe que não se via trabalhando presa entre quatro paredes.
“Eu preciso estar perto dos animais”, ela disse.
Rosangela ingressou na faculdade de veterinária em 1997. Estudava com dedicação, fazia aulas de inglês e italiano, e trabalhava no laboratório do hospital veterinário. Apesar de sua obsessão por observar o comportamento animal, nunca pensou em estudar bem-estar animal — essa área ainda não era destaque na América Latina.
No último semestre, enquanto procurava um estágio final, um professor a ajudou a se conectar com o departamento de ciência animal da Michigan State University, onde trabalhou com o professor brasileiro Adroaldo Zanella.
Ela estagiou em neurofisiologia de leitões, estudando como o desmame precoce e o isolamento social afetavam seus cérebros e resposta ao estresse. Eu nunca pensei que me interessaria pela relação entre função cerebral e bem-estar animal”, disse Rosangela. “E eu adorei.”
Após se formar em veterinária em 2003, foi convidada de volta a Michigan State para um mestrado. Em seguida, recebeu uma oferta para o doutorado na Purdue, onde continuou sua pesquisa na única unidade do USDA dedicada ao bem-estar animal.
Durante seus estudos em Michigan, ouviu pela primeira vez sobre o programa Certified Humane®, ainda recente, através de uma colega que se uniu à organização de Adele Douglass.
Em Purdue, Rosangela percebeu que, apesar de gostar de pesquisa, queria voltar ao contato com os animais nas fazendas. Em 2005, ofereceu sua expertise ao Certified Humane®, passando por treinamentos em auditorias de fazendas de leite e suínos nos EUA, enquanto completava seu doutorado.
Em 2010, com um Ph.D. em neurofisiologia comportamental focada no bem-estar animal e sua formação em medicina veterinária, voltou ao Brasil. Logo foi convidada pela Certified Humane® para auditar fazendas na América Latina como então a única inspetora Certified Humane® na região.
Promovendo o bem-estar animal globalmente
Em 2011, Adele convidou a Rosangela para integrar o Comitê Científico. Mesmo com o programa em expansão, ela já buscava disseminar o bem-estar animal entre produtores tradicionais.
Ela perguntou a Adele até que ponto poderia compartilhar conhecimento prático e técnico, e Adele respondeu que queria que o Certified Humane® fosse um programa educativo.
Com isso, Rosangela ajudou a traduzir e adaptar os padrões para português e espanhol, papel fundamental para o crescimento do programa na América Latina, quebrando tabus e mostrando resultados econômicos e de bem-estar animal aos produtores.
Hoje, os Padrões para Animais de Fazenda estão disponíveis em diversos idiomas, como francês, chinês, indonésio, japonês, tailandês e vietnamita.
Fenômeno global
Além da América do Norte, Certified Humane® expandiu-se para o Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Oriente Médio e Sudeste Asiático, com Rosangela oferecendo orientação técnica e científica na expansão do programa na região.
Após quase 20 anos colaborando com a organização, Rosangela se mantém mais comprometida do que nunca.
“O Certified Humane® é meu coração”, ela diz. “Você não pode me separar dessa história. É grande demais para isso.”
Publicado em 18 novembro de 2024