Você sabe como o peru de Natal foi criado até chegar à sua mesa?
Faz parte da nossa cultura comemorar o Natal e o Réveillon em torno da mesa, compartilhando refeições com amigos e familiares. Tanto é assim que algumas das bebidas e alimentos típicos dessa época do ano tornaram-se verdadeiros símbolos das festas. Pense, por exemplo, em espumantes borbulhantes, peru de Natal suculento ou cortes de suínos deliciosos. É justamente com esses dois últimos exemplos que gostaríamos de conversar sobre bem-estar animal.
O sabor e a tradição podem camuflar algumas questões bastante sérias que existem em torno da forma de criação de perus e suínos. Sem querer pôr água no seu champanhe, mas quantas vezes você já parou para pensar nas condições em que os animais que dão origem a essas carnes são produzidos? A quais condições eles são submetidos do nascimento até o abate?
Os perus: do que eles precisam para ter bem-estar
Para começo de conversa, vejamos o caso dos perus. Estima-se que 7,7 milhões deles sejam consumidos no Brasil a cada Natal. Em 2015, foram produzidas por aqui 327 milhões de toneladas de carne de peru, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal. A boa notícia é que já há algumas granjas no Brasil com o selo Certified Humane, capaz de assegurar aos consumidores que a carne foi produzida de acordo com boas práticas de bem-estar animal. Um exemplo são os pratos a base de peru da linha Sadia/Jamie Oliver, lançados recentemente pela BRF – as aves neles utilizadas são criadas em granjas certificadas pelo Programa Certified Humane Brasil. Isso mostra que é possível produzir perus em escala comercial de acordo com as boas práticas de bem-estar animal.
Na prática, num ambiente de criação humanizada, o peru precisa ter espaço suficiente para bater as asas, movimentar-se com liberdade e não ser obrigado a passar a noite dormindo no chão, mas num poleiro, um pouco acima do solo. As exigências passam também por uma série de outras questões, como a boa alimentação, o transporte em condições adequadas e o abate sem crueldade. Infelizmente, porém na maioria das vezes nem o mínimo é respeitado: muitos perus crescem em aviários superlotados, onde mal conseguem se mexer, e têm de dormir no chão, contrariando seus instintos.
Todo suíno tem direito a espaço amplo, alimentação adequada e algo no qual fuçar, entre outros direitos
No caso dos suínos, as granjas precisam, antes de mais nada, garantir espaço e alimentação adequada. Os suínos devem viver num ambiente no qual possam manifestar alguns comportamentos naturais da espécie. Por isso, uma das exigências é que eles tenham acesso a palha, serragem ou outro tipo de material para fuçar, bater as patas e mastigar. As granjas não devem ser superlotadas e o alimento deve ser em quantidade suficiente. Assim, evita-se competição por comida. Isso é importante porque, em condições adversas, os suínos brigam entre si para comer, o que pode ocasionar ferimentos e, eventualmente, até a morte.
A pressão do mercado, principalmente de grandes empresas de alimentos, tem produzido avanços num aspecto delicado: as condições nas quais os leitões nascem. Em muitas granjas, a prática ainda é de deixar as matrizes em gaiolas minúsculas, nas quais elas têm pouco espaço para se movimentar e amamentar os filhotes. De acordo com as boas práticas de bem-estar, o parto deve acontecer em baias amplas, coletivas, nos quais as porcas e os filhotes possam se movimentar livremente.
Para terminar, ficam aqui os votos de que, daqui por diante, seja cada vez maior o número de pessoas que possam saborear nas festas de fim de ano pratos cujos ingredientes tenham sido produzidos com respeito aos animais. Se você é um consumidor, cabe a você exigir isso das indústrias e dos produtores. E se você é um criador, pense nisso: que tal fazer parte dessa mudança?
Publicado em 21 dezembro de 2016