Bem-estar animal no Brasil: um retrato do que o consumidor pensa
Eis mais uma prova de que o bem-estar animal no Brasil está assumindo uma importância emergente: um estudo divulgado no início de dezembro mostrou que 82% dos consumidores no país comprariam produtos que tivessem um selo de bem-estar animal assegurando que não houve crueldade nem maus tratos na sua produção.
Consumo às cegas: percepção do consumidor sobre o bem-estar animal na América Latina. Foi publicada pela World Animal Protection, organização não-governamental de alcance mundial voltada para a proteção dos direitos dos animais. O relatório se baseou em dados levantados no primeiro semestre de 2016 pela Ipsos, uma das maiores empresas globais de pesquisa e inteligência de mercado.
Não é uma sondagem qualquer – longe disso. Trata-se do mais amplo retrato sobre o que os consumidores de alguns dos principais países latino-americano pensam a respeito do bem-estar dos animais criados para a produção de carne, leite e ovos. Para realizá-la, a Ipsos ouviu no Brasil 2.000 pessoas, das quais 1.200 foram entrevistadas pessoalmente – as 1.000 restantes responderam questionários pela internet. Outras 1.500 pessoas foram consultadas no Chile, na Colômbia e no México, estendendo o panorama para alguns dos principais mercados latino-americanos.
Bem-estar animal: uma questão de sobrevivência no longo prazo
Muitas das informações da pesquisa são absolutamente relevantes para qualquer um que ocupe uma posição na cadeia produtiva de proteína animal. Se esse é o seu caso, é mais do que recomendável ler o estudo com atenção aos detalhes. Um exemplo? Aí vai: para 91% dos entrevistados, animais produzidos com bem-estar dão origem a produtos de maior qualidade. Em outras palavras, os consumidores compartilham uma visão comum de que é muito, mas muito melhor cuidar do bem-estar animal do que não fazer nada a respeito. Os dados mostram que as pessoas têm ao menos uma noção das boas práticas de criação, transporte e abate: 64% dos brasileiros já ouviram falar sobre o tema. É um percentual bastante próximo ao do Chile (65%) e significativamente maior que o do México (58%) e da Colômbia (54%).
Outro ponto importante é que as gerações mais jovens demonstram maior interesse pelo bem-estar dos animais, segundo os resultados do estudo. Os pesquisadores identificaram que a maior parcela dos consumidores preocupados com os métodos de abate é composta por pessoas de 18 a 29 anos, que ainda não chegaram ao auge de sua participação no mercado. A jornada daqui por diante, portanto, tende a ser menos espinhosa para os negócios que abraçarem as boas práticas de bem-estar animal. De maneira bem coerente, 74% dizem acreditar que o sistema de produção de carne que se preocupa com o bem-estar animal no Brasil é mais sustentável e tem menor impacto ambiental.
A importância do bem-estar animal no maior exportador de carne do planeta
Os resultados do estudo ganham relevância pelo peso do Brasil no mercado de produtos de origem animal. Frangos? O Brasil é o segundo maior produtor mundial e o principal exportador. Bois? Os pecuaristas brasileiros cuidam do maior rebanho comercial do mundo, e o país também ocupa o topo do ranking dos exportadores. Somos, além disso, carnívoros incorrigíveis. Por aqui, 68% dos entrevistados afirmaram comer carne bovina quatro vezes na semana, o maior índice entre os países pesquisados, à frente de Colômbia (66%), México (49%) e do Chile (38%).
Ainda há, no entanto, alguns preconceitos a debelar. No Brasil, 73% dos consumidores acreditam que os produtos com selo de produção com bem-estar animal são mais caros. É menos do que na Colômbia (75%), porém mais do no México (72%) e no Chile (69%). O pior de tudo é que, na prática, não há essa relação entre preço maior e a certificação de bem-estar animal: muitas das boas práticas não aumentam os custos de produção ou os elevam de modo irrisório.
Metade dos consumidores afirmam ler os rótulos dos produtos de origem animal antes de comprar — mas só 28% dizem já ter visto produtos com o selo de bem-estar animal no Brasil. Existe aí, sem dúvida, uma oportunidade. Os consumidores já acordaram para a necessidade de valorizar quem cuida bem dos animais. As empresas e criadores cedo ou tarde terão de segui-los.
Publicado em 16 dezembro de 2016