Enriquecimento ambiental para frangos de corte
A avicultura brasileira possui expressiva representatividade no agronegócio. Apesar da evolução tecnológica e o alto índice de produtividade, a produção industrial (confinada) de frangos de corte atual, desafia de maneira relevante o bem-estar das aves diante das condições das instalações e criação.
O Brasil, visto como um dos potenciais países para produção de alimento ao mundo, insere-se num mercado cada dia mais competitivo. Por consequência, padrões internacionais são exigidos, como já é visto em nível de sanidade e higiene. O bem-estar animal, qualidade ética na produção, industrialização e comercialização dos alimentos deveriam ser incorporadas a tais exigências.
A sustentabilidade de produção e o bem-estar dos animais estão ganhando destaque e aparecem como vantagens competitivas, considerando os novos hábitos adotados pelos consumidores, que buscam de forma mais evidente a transparência em relação à produção, transporte e abate de animais, bem como programas de certificação para comprovar a adoção de práticas humanitárias.
Os produtos que apresentam qualificação em bem-estar animal têm maior procura, assim, estes produtos se apresentam com maior valor agregado. Os desafios impostos pelos consumidores para as indústrias, produtores e comerciantes, para adequarem seus processos de produção em prol do bem-estar animal, deve ser levado em consideração. Um exemplo de mercado é a União Europeia, que para importar carne de frangos do Brasil, exige que leis e normas privadas de bem-estar animal sejam seguidas e executadas.
Questões como a densidade de alojamento, transporte, qualidade de cama, ambiência e enriquecimento ambiental merecem maior atenção e estão sendo pesquisadas de forma mais constante. No ambiente confinado do galpão, os comportamentos naturais das aves são limitados pelos sistemas e instalações predominantes no mercado avícola. Tais sistemas e os recursos providos às aves têm sido questionáveis e vêm de encontro às cobranças e demandas ascendentes dos consumidores e programas de certificação de bem-estar animal.
A expressão comportamental das aves também depende de fatores ambientais. Os alojamentos contribuem positivamente para o bem-estar animal. Conferir aos animais as possibilidades de expressarem os seus comportamentos naturais torna-se imprescindível, já que esta condição reduz o estresse e aumenta a produtividade. Nos sistemas confinados de criação de frangos de corte o ato natural de empoleirar-se fica restringido. Mesmo com a significativa evolução genética nas linhagens do frango de corte para índices zootécnicos e fatores como, o peso do peito, imaturidade óssea e resistência da ave em evitar lesões ou desafios, estas ainda apresentam o comportamento de empoleira. Entretanto, os galpões comerciais não oferecem recursos como poleiros ou plataformas que possibilitem às aves expressarem este comportamento inato.
Este ato tem como principais funções a proteção contra predadores terrestres e de fuga de dominantes dentre as aves domésticas. Já o enriquecimento ambiental é adotado como forma de diminuir a monotonia do ambiente – no caso da criação de frangos de corte, podem-se fornecer poleiros ou plataformas para que expressem um de seus comportamentos naturais. Esse princípio se enquadra na proposta das Cinco Liberdades, reportadas pela Farm Animal Welfare Council (FAWC, 2009), as quais são identificados pela saúde física e mental dos animais.
Problemas ligados ao bem-estar animal são relacionados aos sistemas de criação confinada, que por sua vez oferecem ambiente e estímulos limitados, o que impõe barreiras no desenvolvimento dos padrões comportamentais das aves. A alta densidade em que os animais são submetidos e a falta ou até a ausência de recursos no ambiente são geralmente causadores de estresse para eles em confinamento, evidenciando fatores negativos para o bem-estar. Estes podem ser identificados pelos protocolos da Welfare Quality ®, (2009), que estabelece escores de qualidade com relação às condições corpóreas das aves, que podem ser evidências de más condições de manejo ou criação, refletindo em perdas produtivas e de bem-estar.
A tomada de providências para manter os frangos confinados ativos através do enriquecimento ambiental deve ser usada para estimular o comportamento exploratório de forrageamento e locomoção, a fim de minimizar a agressividade decorrente do estresse como ferimentos por bicagem.
As disponibilidades de estruturas elevadas que permitam às aves a se empoleirar desde a primeira semana de idade favorecem um repertório comportamental natural e variado; este inclui exercícios motores tais como saltos, tentativas de voo e agarrar com os dígitos. As aves também possuem um comportamento exploratório natural; este é evidenciado pela curiosidade em explorar e interagir com algo diferente em seu espaço, o que contribui positivamente para o bom desenvolvimento.
O uso de poleiros em espaço vertical das instalações favorece melhorias nas condições de bem-estar às aves e na qualidade da carne. Ainda, há redução da densidade no piso, o que possibilita boas condições plantares dos frangos de corte devido a melhor qualidade da cama aviária. A disponibilidade de tal recurso reduz de forma efetiva problemas de saúde das aves e, além disso, provoca um aumento significativo de peso, promovendo o desenvolvimento esquelético e muscular. Até a quarta semana de idade, os frangos de corte aumentam o uso efetivo de poleiros. Após este período, ocorre uma redução do uso, o que se justifica pelo maior ganho de peso das aves, o que potencialmente dificulta o salto ou voo.
Dentre o repertório comportamental natural das aves, ainda há aqueles tidos como “de conforto” (bater e esticar as asas/pernas e chacoalhar as penas), os quais são realizados quando as aves não estão em condição de estresse. A frequência destes é superior em ambientes enriquecidos, em que há maior diversidade de expressões comportamentais.
O uso de diferentes materiais e métodos como enriquecimento colabora com os animais criados para fins de produção ou de companhia, possibilitando maior comportamento natural das aves, o que leva à diminuição de atitudes anormais e à uma melhora na sua qualidade de vida.
Artigo escrito por Leandro Sabei*
*Mestrando no programa do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo
Publicado em 13 novembro de 2018